História
do Tango
surgido como criação anônima dos bairros pobres
e marginais de Buenos Aires, o tango argentino tradicional tornou-se
mundialmente famoso na voz de Carlos Gardel e, adaptado a uma estética
moderna, com as composições instrumentais de Astor Piazzolla.
Tango é uma música de dança popular que nasceu
em Buenos Aires, capital da Argentina, no final do século XIX.
Evoluiu a partir do candombe africano, do qual herdou o ritmo; da
Milonga, que inspirou-lhe a coreografia; e da Habanera, cuja linha
melódica assimilou. Chamado pelos argentinos de "música
urbana", tem a peculiaridade de apresentar letras na gíria
típica de Buenos Aires, o lunfardo.
Os primeiros Tangos, ainda próximos à Milonga, eram
animados e alegres. O primeiro cantor profissional de tango, também
compositor, foi Arturo de Nava. A partir da década de 1920,
tanto a música como a letra assumiram tom acentuadamente melancólico,
tendo como principais temas os tropeços da vida e os desenganos
amorosos. A temática é freqüentemente ligada à
vida boêmia, com menção ao vinho, aos amores proibidos
e às corridas de cavalos. As orquestras compunham-se inicialmente
de bandolim, bandurra e violões. Com a incorporação
do acordeão, a que seguiram a flauta e o bandoneom, o tango
assumiu sua expressão definitiva.
Dos subúrbios chegou ao centro de Buenos Aires, por volta de
1900. As primeiras composições assinadas surgiram na
década de 1910, no período conhecido como da Guardia
Vieja (Velha Guarda). A partir daí, conquistou grande popularidade
na Europa, com o impulso da indústria fonográfica americana.
Os tradicionalistas incriminam a predominância da letra, a partir
da década de 1920, como responsável pela adulteração
do caráter original do tango. A voz do cantor modificou o ritmo,
que já não comportava o mesmo modo de dançar.
As figuras mais importantes da Guardia Nueva (Nova Guarda) foram o
cantor Carlos Gardel -- cuja voz e personalidade, aliadas à
morte trágica num acidente de avião, ajudaram a transformar
em mito argentino -- e o compositor Enrique Santos Discepolo. Ao mesmo
tempo, compositores europeus, como Stravinski e Milhaud, utilizavam
elementos do tango em suas obras sinfônicas.
Embora continuasse a ser ouvido e cultuado na Argentina conforme a
feição que lhe foi dada por Gardel, o tango começou
a sofrer tentativas de renovação. Entre os representantes
dessa tendência, figuram Mariano Mores e Aníbal Troilo
e, sobretudo, Astor Piazzolla, que rompeu decididamente com os moldes
clássicos do tango, dando-lhe tratamentos harmônicos
e rítmicos modernos.
O Tango -- como o Samba, no Brasil -- tornou-se símbolo nacional
com forte apelo turístico. Casas de tango e o culto aos nomes
famosos de Gardel e Juan de Dios Filiberto perpetuam o gênero.
Ao contrário do samba, no entanto, a criação
artística do tango sofreu forte declínio a partir da
década de 1950.
Dança. Por sua forte sensualidade, o tango foi, a princípio,
considerado impróprio a ambientes familiares. O ritmo herdou
algumas características de outras danças de casais,
como as corridas e quebradas da habanera, mas aproximou mais o par
e acrescentou grande variedade de passos. Os dançarinos mais
exímios compraziam-se em combiná-los e inventar outros,
numa demonstração de criatividade. Fora dos ambientes
populares e dos prostíbulos, onde imperava nos subúrbios,
o tango perdeu um pouco da lendária habilidade dos bailarinos.
Admitido nos salões, abdicou das coreografias mais extravagantes
e evitou posturas sugestivas de uma intimidade considerada indecente,
numa adaptação ao novo ambiente.