História
da Gafieira
dança popular e gênero musical derivado de ritmos e melodias
de raízes africanas, como o Lundu e o Batuque. A coreografia
é acompanhada de música em compasso binário e
ritmo sincopado. Tradicionalmente, é tocado por cordas (cavaquinho
e vários tipos de violão) e variados instrumentos de
percussão. Por influência das orquestras americanas em
voga a partir da segunda guerra mundial, passaram a ser utilizados
também instrumentos como trombones e trompetes, e, por influência
do Choro, flauta e clarineta. Apesar de mais conhecido atualmente
como expressão musical urbana carioca, o samba existe em todo
o Brasil sob a forma de diversos ritmos e danças populares
regionais que se originaram do Batuque. Manifesta-se especialmente
no Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Minas
Gerais.
Como gênero musical urbano, o Samba nasceu e desenvolveu-se
no Rio de Janeiro nas primeiras décadas do século XX.
Em sua origem uma forma de dança, acompanhada de pequenas frases
melódicas e refrões de criação anônima,
foi divulgado pelos negros que migraram da Bahia na segunda metade
do século XIX e instalaram-se nos bairros cariocas da Saúde
e da Gamboa. A dança incorporou outros gêneros cultivados
na cidade, como Polca, Maxixe, Lundu, Xote etc., e originou o samba
carioca urbano e carnavalesco. Surgiu nessa época o Partido
Alto, expressão coloquial que designava alta qualidade e conhecimento
especial, cultivado apenas por antigos conhecedores das formas antigas
do samba.
Em 1917 foi gravado em disco o primeiro Samba, Pelo telefone, de autoria
reivindicada por Donga (Ernesto dos Santos). A propriedade musical
gerou brigas e disputas, pois habitualmente a composição
se fazia por um processo coletivo e anônimo. Pelo telefone,
por exemplo, teria sido criado numa roda de partido alto, da qual
participavam também Mauro de Almeida, Sinhô e outros.
A comercialização fez com que um samba passasse a pertencer
a quem o registrasse primeiro. O novo ritmo firmou-se no mercado fonográfico
e, a partir da inauguração do rádio em 1922,
chegou às casas da classe média.
Os grandes compositores do período inicial foram Sinhô
(José Barbosa da Silva), Caninha (José Luís Morais),
Pixinguinha (Alfredo da Rocha Viana) e João da Baiana (João
Machado Guedes). Variações surgiram no final da década
de 1920 e começo da década de 1930: o Samba-Enredo,
criado sobre um tema histórico ou outro previamente escolhido
pelos dirigentes da escola para servir de enredo ao desfile no carnaval;
o Samba-Choro, de maior complexidade melódica e harmônica,
derivado do choro instrumental; e o Samba-Canção, de
melodia elaborada, temática sentimental e andamento lento,
que teve como primeiro grande sucesso Ai, ioiô, de Henrique
Vogeler, Marques Porto e Luís Peixoto, gravado em 1929 pela
cantora Araci Cortes.
Também nessa fase nasceu o samba dos blocos carnavalescos dos
bairros do Estácio e Osvaldo Cruz, e dos morros da Mangueira,
Salgueiro e São Carlos, com inovações rítmicas
que ainda perduram. Nessa transição, ligada ao surgimento
das escolas de samba, destacaram-se os compositores Ismael Silva,
Nilton Bastos, Cartola (Angenor de Oliveira) e Heitor dos Prazeres.
Em 1933, este último lançou o samba Eu choro e o termo
"breque" (do inglês break, então popularizado
com referência ao freio instantâneo dos novos automóveis),
que designava uma parada brusca durante a música para que o
cantor fizesse uma intervenção falada. O Samba-de-Breque
atingiu toda sua força cômica nas interpretações
de Moreira da Silva, cantor ainda ativo na década de 1990,
que imortalizou a figura maliciosa do sambista malandro.
O Samba-Canção, também conhecido como samba de
meio do ano, conheceu o apogeu nas décadas de 1930 e 1940.
Seus mais famosos compositores foram Noel Rosa, Ari Barroso, Lamartine
Babo, Braguinha (João de Barro) e Ataulfo Alves. Aquarela do
Brasil, de Ari Barroso, gravada por Francisco Alves em 1939, foi o
primeiro sucesso do gênero Samba-Exaltação, de
melodia extensa e versos patrióticos.
A partir de meados da década de 1940 e ao longo da década
de 1950, o samba sofreu nova influência de ritmos latinos e
americanos: surgiu o Samba de Gafieira, mais propriamente uma forma
de tocar -- geralmente instrumental, influenciada pelas orquestras
americanas, adequada para danças aos pares praticadas em salões
públicos, gafieiras e cabarés -- do que um novo gênero.
Em meados da década de 1950, os músicos dessas orquestras
profissionais incorporaram elementos da música americana e
criaram o Sambalanço. O partido alto ressurgiu entre os compositores
das escolas de samba dos morros cariocas, já não mais
ligado à dança, mas sob a forma de improvisações
cantadas feitas individualmente, alternadas com estribilhos conhecidos
cantados pela assistência. Destacaram-se os compositores João
de Barro, Dorival Caymmi, Lúcio Alves, Ataulfo Alves, Herivelto
Martins, Wilson Batista e Geraldo Pereira.
Com a Bossa Nova, que surgiu no final da década de 1950, o
samba afastou-se ainda mais de suas raízes populares. A influência
do Jazz aprofundou-se e foram incorporadas técnicas musicais
eruditas. O movimento, que nasceu na zona sul do Rio de Janeiro, modificou
a acentuação rítmica original e inaugurou um
estilo diferente de cantar, intimista e suave. A partir de um festival
no Carnegie Hall de Nova York, em 1962, a bossa nova alcançou
sucesso mundial. O retorno à batida tradicional do samba ocorreu
no final da década de 1960 e ao longo da década de 1970
e foi brilhantemente defendido por Chico Buarque de Holanda, Billy
Blanco e Paulinho da Viola e pelos veteranos Zé Kéti,
Cartola, Nelson Cavaquinho, Candeia e Martinho da Vila.
Na década de 1980, o Samba consolidou sua posição
no mercado fonográfico e compositores urbanos da nova geração
ousaram novas combinações, como o paulista Itamar Assunção,
que incorporou a batida do Samba ao Funk e ao Reggae em seu trabalho
de cunho experimental. O Pagode, que apresenta características
do Choro e um andamento de fácil execução para
os dançarinos, encheu os salões e tornou-se um fenômeno
comercial na década de 1990.